Ra'u Reconvexo Festival
Video mapping installation at the first video mapping festival "Reconvexo" -Lucca Del Carlo + Bianca Sardinha - 2012
Vídeo instalação de Bianca Caeté Sardinha e Lucca Del Carlo feita durante o Reconvexo Festival 2013. Ra’u, cujo o nome vem do vocabulário Guarani Mbyá, significando “em sonho”, é uma escultura aumentada e uma vídeo instalação. Um convite ao devaneio, ao descanso, a interiorização, a meditação e a contemplação num ambiente de características oníricas, onde o som, a imagem e o corpo vibram na mesma frequência. Nosso intuito é realizar um tributo à forma de comunicação simbólica do inconsciente com a mente consciente. Jung afirmava que o sonho e a imaginação são os dois grandes canais de comunicação do inconsciente. Este dizia ser possível comparar o sonho a uma tela na qual o inconsciente projeta seu drama interior. Ao longo de nossas pesquisas, descobrimos que o lugar do sonho na cultura indígena foi profundamente estudado por Jung. Este lugar difere completamente de como encaramos o sonho na atualidade, pois está ligado a um pensamento coletivo, fundamentalmente mítico.
Segundo Robert A. Jonhson em Inner Work (1986), Jung observou que os aborígenes da Austrália gastam dois terços do tempo que passam acordados em alguma forma de trabalho interior. Realizam cerimoniais religiosos, discutem e interpretam seus sonhos e consultam espíritos. Nós, modernos, mal podemos dispor de algumas horas livres da semana para nos dedicarmos ao mundo interior. É por isso que, apesar de toda a nossa tecnologia, chegamos a saber menos sobre nós mesmos do que povos aparentemente primitivos. Kaká Werá Jecupe, índio txucarramãe, afirma na entrevista para a revista Isto É segundo o artigo A subjetividade hoje: os paradoxos da servidão voluntária de Doris Rinaldi, que o sonho é o momento em que se está no puro estado de espírito, no awá, no ser integral, despido da estrutura racional do pensar. Ele é concebido como uma liberdade do espírito, quando se vê tudo por todos os ângulos, o que proporciona a multidimensionalidade do mundo. Este também afirma que o sonho não é a realidade individual de um sujeito, mas diz respeito a uma coletividade. Na aldeia, o sonho cumpre o papel de direcionar a ação no cotidiano e há povos que têm um sonhador oficial, ou um grupo de sonhadores, que se reúne diariamente para debate-los e daí tirar as consequências para a vida comum.